sexta-feira, 23 de julho de 2010

União 'acha' desmatamento fora das florestas

Notícia extraída na íntegra do valoronline.com, no dia 23 de julho de 2010

Ambiente: Levantamento do ministério mostrou destruição em outros biomas, como o Pampa e o CerradoUnião 'acha' desmatamento fora das florestas

Mauro Zanatta, de Brasília

Após décadas de devastação das florestas brasileiras, só agora o governo começa a ter um "quadro geral" sobre a dimensão da destruição dos principais biomas do país. Apenas no período entre 2002 e 2008, foram derrubados 218,2 mil quilômetros quadrados na Amazônia, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Pampa. É uma área equivalente a 90% do território do Estado de São Paulo ou cinco vezes o tamanho do Estado do Rio de Janeiro. E ainda falta medir o tamanho da derrubada na Mata Atlântica.

Os dados, divulgados ontem pelo Ministério do Meio Ambiente, mediram o inédito desmatamento do Pampa gaúcho, que chegou a 54% até 2008. Ainda mais alarmante são os números oficiais sobre o ritmo da devastação. Em sete anos, o Cerrado perdeu 85 mil km2 - pouco menos do que o território dos Estados de Pernambuco ou Santa Catarina. Nesse período, 4,2% do bioma foram derrubadas. A taxa de desmatamento bateu em 0,7% ao ano.

A Amazônia teve 2,5% de suas florestas derrubadas - foram 110 mil km2, ou duas vezes o tamanho da Paraíba. E o Pantanal registrou devastação em 2,8% de sua área. "O problema extrapola a Amazônia. Está em todos os biomas. Agora, começamos a ter um quadro geral do país com esses outros biomas", afirmou o diretor de Conservação da Biodiversidade do ministério, Bráulio Dias. "O maior problema é o Cerrado, que deve ser uma das principais frentes de batalha na redução do desmatamento".

A medida da devastação deve levar o governo a tomar ações mais específicas para os demais biomas. "Sabíamos, mas não tínhamos a magnitude do problema no Pampa", afirmou a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. "Vamos mudar o patamar, otimizar áreas degradadas e dar corresponsabilidade no Cerrado". O monitoramento do governo mostrou a necessidade de melhorar a atuação estatal por meio de tecnologia e formulação de políticas públicas "orientadas" para inibir a ação de desmatadores.

Em defesa de sua atuação, que reduziu em 47% o desmatamento na Amazônia no período entre agosto de 2009 e maio de 2010, o governo avisa que não dará trégua em ano eleitoral. "O Ibama está aprendendo a lidar com o desmatamento em operações focadas", admitiu o diretor de Proteção Ambiental do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), Luciano Evaristo. Segundo ele, a redução da devastação na Amazônia está ligada à "neutralização" das ações predatórias na faixa da rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém), sobretudo em localidades como Novo Progresso e Castelo de Sonhos, no Pará. "Pela primeira vez, planejamos nossas ações de combate com um ano de antecedência", afirmou Evaristo.



Para comprovar a eficácia das ações do Ibama neste ano eleitoral, o diretor apresentou alguns dados colhidos no período de agosto de 2009 a maio de 2010. O Ibama embargou 139,5 mil hectares, 65 serrarias e 108 mil metros cúbicos de madeira. Também aplicou 1.632 autos de infração e multas de R$ 859,6 milhões. "Ano eleitoral para a gente não existe. É o ano que eu gosto de bater mais. Se falar em palanque que pode desmatar, vai levar repressão", afirmou Luciano Evaristo. "Fizemos 226 operações no total. Hoje, temos 14 operações na Amazônia onde 200 homens se revezam no combate ao desmatamento", disse.

Mesmo com os índices da devastação na Amazônia em regressão, o governo detectou um aumento de 6% do desmatamento no Estado do Amazonas. "Deu um salto e vamos ver o que é. Se é a região de Lábrea ou outro vazamento de desmate, além de identificar se é uma tendência ou não", afirmou a ministra Izabella Teixeira. "É preciso avaliar a dinâmica dos fatores econômicos e sociais para reorientar as políticas públicas na regão". O Ibama prepara uma megaoperação na região Sul do Amazonas para os próximas dias, informou o diretor Luciano Evaristo, sem declinar o que será colocado em prática na região.